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Uma aliança tão grande quanto os desafios que enfrentamos

ROBERTSROB VIA GETTY IMAGES

Juan E. Notaro

Presidente Executivo do FONPLATA – Banco de Desenvolvimento

O que é necessário para que 450 bancos públicos de desenvolvimento de todo o mundo formem uma aliança global? Poder-se-ia dizer: uma pandemia, uma iminente crise econômica global e o já impossível de ignorar impacto dos efeitos das mudanças climáticas.

Embora essas sejam razões imperiosas, a motivação subjacente é a crescente consciência de que temos um destino comum, de que os desafios que enfrentamos não respondem mais à lógica dos países e territórios e de que juntos somos muito mais fortes.

São reflexões que faço após acompanhar os eventos da Finance in Common, a primeira cúpula mundial de bancos públicos de desenvolvimento que aconteceu em Paris, por meio de vídeo conferência.

Há alguns anos, o mundo traçou um ‘roteiro: os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, uma lista de objetivos ambiciosos que a maioria da humanidade se comprometeu a alcançar até 2030.

Embora o progresso em direção a essas conquistas tenha sido desigual em diferentes países e regiões, 2020 nos mostrou que é imperativo trabalharmos juntos para construir esse mundo mais justo, solidário e sustentável com o qual sonhamos.

E apesar das ameaças concretas de hoje, pelo que vi e ouvi na Cúpula de Paris, estou convencido de que o que inspira e engaja os representantes dos 450 bancos presentes não é o perigo de hoje, mas as oportunidades de amanhã.

E o que os bancos públicos de desenvolvimento podem fazer para chegar lá? Essa aliança global de 450 instituições, com poder de financiamento maior do que custaria para comprar as cinco maiores empresas de tecnologia do mundo, é um primeiro passo importante.

Em segundo lugar, o papel que essas instituições desempenharão na recuperação econômica pós-pandemia: “Podemos fornecer respostas anticíclicas em tempos de crise”, comprometeram-se em sua declaração final.

Em outras palavras, esses bancos — dentre eles, o FONPLATA — Banco de Desenvolvimento, que tenho a honra de presidir — têm a capacidade e o mandato para conceder financiamento em circunstâncias em que, para outras instituições, não é possível ou não é lucrativo fazê-lo.

Outra vantagem importante desse tipo de instituição é que trabalha com o olhar voltado para o futuro. “O mundo pós-COVID-19 requer uma mudança de paradigma há muito esperada, para que a recuperação seja resiliente, inclusiva e sustentável”, afirma a declaração final.

Com a mesma visão de futuro, as instituições se comprometeram — nos comprometemos — a apoiar decisivamente o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas e o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

É um compromisso que alcança a própria essência de nossos bancos, a ponto de nos comprometermos a modificar nossos mandatos para deixar de financiar projetos e obras “incompatíveis com uma transição justa e inclusiva para caminhos de desenvolvimento sustentável, de baixo carbono e resilientes”.

O mesmo acontece com nossos modelos de negócios, nossas alianças com o setor privado, a sociedade civil e outros bancos. Em outras palavras, tudo o que fizermos daqui para frente deve ter como objetivo um mundo mais limpo e justo.

Os bancos também assumiram compromissos específicos e igualmente urgentes, como investimentos em adaptação às mudanças climáticas, investimentos sociais sustentáveis para a recuperação pós-COVID-19 e em sistemas agrícolas e alimentares.

Também concordamos em nos reunir novamente em 2021 para validar esse programa de trabalho, consolidar o compromisso de bancos e governos e estabelecer mecanismos para monitorar o progresso de cada uma das metas propostas.

Ao me desconectar da videoconferência com Paris, fiquei com a sensação de que, apesar das urgências de nossa realidade imediata, essa aliança de 450 bancos públicos de desenvolvimento de todo o mundo é tão grande quanto os desafios que enfrentamos.

Quando escrevi pela primeira vez sobre esta cúpula, há alguns meses, tornei público meu compromisso, e o do FONPLATA – Banco de Desenvolvimento, de contribuir com o melhor de nossos esforços, projetos e conhecimento para essa causa.

Agora que testemunhei o desafio assumido em Paris por tantas instituições como a nossa, sei que o caminho, embora cheio de dificuldades, será percorrido em boa companhia e com os olhos no futuro da humanidade.

Texto publicado originalmente na coluna mensal de Juan E. Notaro no Huffington Post.

02/12/2020