Educação sem aprendizagem: uma crise global
Para América Latina serão necessários vários anos para superar a brecha com os países mais desenvolvidos.
Em termos gerais, o Brasil está 15 anos adiantado em relação à média das nações da América Latina e do Caribe quanto à qualidade da educação. No entanto, serão necessários pelo menos 75 anos para que este país alcance uma pontuação média em matemática similar à dos países ricos. No quesito leitura, esta brecha fica ainda maior. Seriam necessários 263 anos para chegar ao nível das nações mais avançadas, de acordo com os dados divulgados pelo Banco Mundial.
Já no Uruguai a proporção de estudantes de sétimo ano que vêm de famílias pobres e que tiveram resultado “não satisfatório” em matemática é cinco vezes superior ao de crianças com uma situação econômica mais cômoda.
Ou seja, à brecha entre países se soma a uma brecha dentro do próprio território de cada país que depende do nível de renda das famílias das crianças que vão à escola. Apesar de frequentar diariamente instituições de ensino, uma grande quantidade de alunos não está adequadamente escolarizada, sobretudo em países de baixa e média rendas.
Esta é uma das principais conclusões do “Relatório sobre o desenvolvimento mundial 2018: Aprender para tornar realidade a promessa da educação” (em inglês), elaborado pelo Banco Mundial. De acordo com o documento, estamos diante de uma “crise de aprendizagem” em nível global.
De acordo com o relatório, depois de anos de escola, milhões de estudantes em todo o mundo não sabem ler, escrever nem fazer as operações básicas de matemática. Tudo isso frustra os planos de desenvolvimento em nível pessoal e também nacional. Com escolaridade precária não é possível dar um basta à pobreza extrema, nem gerar oportunidades para promover a prosperidade igualitária.
O organismo internacional destaca que a escolarização sem aprendizagem é uma oportunidade desperdiçada, e também uma grande injustiça contra crianças e jovens em todo o mundo.
Jaime Saavedra, diretor superior de Educação do Banco Mundial, destaca que “os países em desenvolvimento não investem recursos suficientes e a maioria deveria investir com mais eficiência. Não é apenas uma questão de dinheiro; os países também devem investir na capacidade das pessoas e as instituições que têm sob sua responsabilidade a educação de nossos filhos”, afirma Saavedra.
A brecha social
Milhares de estudantes chegam à idade adulta sem as ferramentas básicas para progredir. Muitos deles são oriundos de ambientes onde predominam a pobreza, os conflitos, a discriminação de gênero e as carências. Esta situação faz com que estas personas continuem nestas condições porque não estão qualificadas para ter acesso a melhores oportunidades.
Em vez de reduzir estas lacunas sociais, a crise de aprendizagem faz com que elas se ampliem. Ao longo dos anos muitas pessoas terão formação escolar porém com um desempenho de semianalfabetos.
“Esta crise de aprendizagem é uma crise moral e econômica”, afirmou o presidente do Grupo Banco Mundial, Jim Yong Kim.
A pesquisa foi feita com estudantes que têm a oportunidade de ir à escola em todo o mundo. No entanto, mais de 260 milhões de crianças não estão matriculadas em escolas. Milhões de pessoas chegam à idade adulta sem as aptidões mais básicas para o mundo profissional, apesar de que muitos deles tenham ido ao colégio.
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