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Financiamento para o desenvolvimento: o combustível da integração

FONPLATA

Juan E. Notaro
Presidente Executivo do FONPLATA - Banco de Desenvolvimento 

A integração dos países vai sempre de mãos dadas com seu desenvolvimento. A integração física requer infraestrutura, rodovias e portos; a integração econômica, políticas e instituições em comum que tornem o processo simples e harmônico.

E o financiamento é o meio para alcançá-las. Financiamento sólido, estável, independente de conjunturas econômicas e focado em áreas e necessidades que, devido à sua dimensão ou complexidade, não costumam ser rentáveis para os bancos comerciais nem viáveis para os bancos nacionais de desenvolvimento.

Portanto, para financiar a integração entre países, bem como seu desenvolvimento, precisamos de uma instituição supranacional, sem fins lucrativos e claramente focada em possibilitar os projetos que contribuam para materializar estes objetivos: a integração e o desenvolvimento.

O exemplo mais bem-sucedido de uma instituição deste tipo é o Banco Europeu de Investimentos (BEI), uma das maiores e mais importantes instituições financeiras supranacionais do mundo, tanto por suas conquistas quanto pelo volume de suas operações.

Os “donos” do banco são todos os países membros da União Europeia, que contribuem proporcionalmente para o capital do BEI, de acordo com a contribuição de cada um para o PIB global do bloco.

Seus créditos estão voltados fundamentalmente para integração, infraestrutura, mudança do clima, meio ambiente e PME. Desempenhou papel fundamental no respaldo à consolidação da União Europeia, especialmente nas áreas e países com menores níveis de desenvolvimento.

Devido à sua sólida classificação de risco (AAA, segundo as três principais agências classificadoras do mundo), a emissão de títulos é seu principal método de obtenção de fundos, os quais, por sua vez, permitem ao BEI assumir projetos que os estados membros não podem custear por si próprios.

Na América Latina, com suas luzes e sombras, o modelo de integração mais avançado, com maior institucionalidade e maior número de habitantes na região é o MERCOSUL. Há tempo que me faço a seguinte pergunta: Será que podemos sonhar com um banco de investimentos independente ou uma agência financeira de desenvolvimento própria, confiável e com clara vocação para enfrentar os desafios mais urgentes de nossa região e de nossos tempos?

Eu acredito que sim. O MERCOSUL acumula já 30 anos de realizações, apesar das crises políticas e financeiras regionais e mundiais, além de profundas transformações sociais e políticas em seus países membros.

Isso é prova de que nossa vocação integradora é mais sólida do que todos os desafios que enfrentamos e de que não é absurdo sonharmos com uma instituição que obtenha e distribua os recursos necessários para continuarmos a avançar nesse caminho.

Do sonho chega-se, naturalmente, à realidade e à seguinte pergunta: será que o MERCOSUL precisa de uma instituição desse tipo? Eu entendo que a resposta é um claro, rotundo e inequívoco sim.

As sequelas sociais e econômicas da pandemia e da crise climática e os desafios globais que representa o reajuste dos polos de poder global são evidência de que devemos avançar para um modelo próprio de desenvolvimento e cooperação no qual a solução de nossos problemas atuais e as bases de nosso futuro dependam cada vez menos de fatores externos.

Aliás, a urgência e a importância dos desafios que temos por diante são uma oportunidade para a audácia, a criatividade e a inovação; três ingredientes que também abundam na nossa região.

Minha conclusão é de que, sim, precisamos ter, no âmbito do MERCOSUL, uma fonte de financiamento própria, confiável e segura para aprofundar a integração, as comunicações, a logística, os projetos ambientais e de energias renováveis, o desenvolvimento de software, a biomedicina. E, acima de tudo, que coloque o foco na redução das assimetrias econômicas e sociais das regiões ou países de menor desenvolvimento relativo.

A integração precisa de combustível, e este pode ser o caminho.

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