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Uma injeção de solidariedade para superar a pandemia

Francesco Carta Fotógrafo vía Getty Images

Os efeitos da COVID-19 na economia só podem ser superados com soluções criativas e o esforço de todos.

Juan E. Notaro

Presidente Executivo do FONPLATA

Enquanto escrevo estas linhas, estou trabalhando em casa, como quase um terço dos habitantes do planeta, cumprindo as recomendações de isolamento e distanciamento social da OMS e das autoridades locais de saúde.

A um 2020 que começou com grandes desafios e importantes mudanças políticas na América Latina, agora se adiciona esta pandemia, que, além de suas consequências já muito visíveis para a saúde pública, em breve se acrescentará um impacto econômico significativo.

Penso especialmente nos países com os quais trabalhamos no FONPLATA (Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai), cada um com necessidades diferentes e que, já no início do ano, enfrentavam os desafios da desaceleração econômica que agora se aprofundará ainda mais.

Embora os governos de cada um desses países estabeleçam mecanismos para responder à pandemia, as agências de desenvolvimento também estão procurando maneiras de responder à emergência sem perder de vista o apoio necessário à recuperação econômica que se seguirá.

Em relação à emergência, a epidemia significa um teste para os sistemas de saúde desses países. Em primeiro lugar, pelos sistemas e campanhas de prevenção, em segundo, pela atenção às pessoas afetadas, e, em terceiro lugar, pela adaptação necessária desses sistemas a eventos similares no futuro.

Isto requer das organizações de desenvolvimento trabalho muito próximo aos governos para apoiar no que for imediato, como fizemos ao implementar fundo de cooperação não reembolsável, de US$ 1,5 milhão, para nossos países membros, para a compra de equipamento médico e outros insumos de primeira necessidade no contexto da emergência da COVID-19.

No que diz respeito à atenção às pessoas afetadas, também é importante agir com rapidez e flexibilidade para diminuir os tempos e agilizar os trâmites, de forma a permitir que os países coloquem em prática mecanismos de atuação contra a pandemia.

Assim fizemos em relação à Argentina, país para o qual aprovamos US$ 53 milhões, que já estão sendo usados para implementar políticas de proteção para os grupos sociais mais vulneráveis aos efeitos do vírus. Financiamento que inclui, entre outras coisas, a construção de 11 hospitais modulares de emergência, o fornecimento de mais de 200 leitos de terapia intensiva e mais de 500 para outros tratamentos.

Da mesma forma, continuamos a nos comunicar com as autoridades de todos os países membros do FONPLATA para coordenar soluções que possam ajudá-los a responder melhor à emergência e colocar suas economias em movimento.

Nesse sentido, já estamos em negociações para flexibilizar a aprovação de alguns fundos, além de permitir a reatribuição de dotações já aprovadas, para que os países possam alocar recursos para áreas que considerem prioritárias.

Não negligenciamos, é claro, o que tem sido nosso compromisso histórico com a região: levar o desenvolvimento às áreas mais isoladas, às populações mais desprotegidas, aos lugares mais distantes.

É por isso que ainda é essencial continuar com nosso trabalho de fornecer infraestrutura para essas regiões, para que elas tenham melhores estradas, melhores serviços de água e saneamento em geral, melhores condições de vida que lhes permitam estar mais preparadas para enfrentar crises de saúde e os riscos a elas associados.

Uma das coisas que essa pandemia deixou claro é que, para além das fronteiras e bandeiras, a raça humana é uma só e todos enfrentamos as ameaças comuns, como este vírus, as desigualdades sociais ou as mudanças climáticas.

Essas ameaças comuns são o que torna ainda mais relevantes os mecanismos de cooperação, coordenação e integração que instituições como o FONPLATA disponibilizam para os países.

Todos os laços que possam ser fortalecidos entre países, todas as alianças que possam ser forjadas, toda a integração que possa ser promovida nos fortalecerão como indivíduos, como países e como humanidade. Esse é o nosso esforço.

Texto publicado originalmente na coluna mensal de Juan E. Notaro no Huffington Post.

16/04/2020