Editoriais

Os bancos de desenvolvimento são a base para construir um mundo melhor depois da COVID

Ph. FONPLATA

Juan E. Notaro
Presidente Executivo do FONPLATA – Banco de Desenvolvimento

A função principal dos bancos de desenvolvimento é financiar programas e projetos que possam não ser convenientes ou rentáveis para os bancos comerciais. Desenvolvimento, em sua acepção mais genérica, é tudo aquilo que contribui para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas.

Portanto, o mandato dos bancos de desenvolvimento abrange praticamente todos os aspectos da vida em sociedade. De escolas e aquedutos a rodovias, portos, instalações elétricas, bem como educação e saúde, dentre muitos outros.

Tais necessidades e a forma de satisfazê-las nos colocam diante de dois desafios importantes. Um, evidente e imediato, é a crise gerada pela pandemia da COVID-19 e seu enorme impacto econômico.

Apenas no que diz respeito aos efeitos econômicos da COVID, o Fundo Monetário Internacional calcula que a contração econômica mundial esteve próxima de 4,4%, a pior queda desde a Grande Depressão de 1930.

Embora se vislumbrem sinais positivos, sobretudo para a segunda metade do ano, a economista chefe do FMI, Gita Gopinath, alertou que a recuperação vai ser “longa, desigual e incerta” para muitos países.

Percorrer esse caminho é um esforço que requer grandes investimentos. Tamanha injeção de fundos, com certeza, deve vir de todos os setores; os bancos de desenvolvimento, porém, podem contribuir com vantagem.

O outro desafio está presente há mais tempo, mas nem por isso é menos premente. Refiro-me à mudança do clima e aos seus efeitos em todas as áreas da atividade humana e, em especial, à sua capacidade potencial de desencadear novas pandemias futuras.

Embora o desafio seja enorme e o tempo não nos favoreça, há algumas boas notícias. Uma delas é que os custos de mitigar a mudança climática e seus efeitos, embora altos, são muito menores do que se não fizermos nada.

Mais uma vez, baseio-me nos números do FMI, que estima que “entre 2037 e 2050, a estratégia de mitigação (dos efeitos da mudança do clima) custaria, em média, em torno de 0,7% do PIB mundial anual, e 1,1% em 2050”.

No entanto, o mesmo documento aponta que “esses custos parecem razoáveis se considerarmos que a projeção de crescimento do produto mundial até 2050 é de 120%”.

O financiamento dos bancos de desenvolvimento, em condições vantajosas e com claro foco no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas, tem que ser o motor desse esforço.

Além de ser parte fundamental desta reconstrução, os bancos de desenvolvimento decidiram agir juntos e colocar todos os seus recursos e conhecimentos ao serviço do mundo (melhor) que virá, por meio de grande aliança mundial.

A aliança nasceu em Paris, no final do ano passado, mas à diferença de outras grandes reuniões globais, desta cúpula surgiram compromissos específicos, prazos claramente estabelecidos e objetivos claros, tendo como eixo principal a luta contra a mudança do clima.

Um desses objetivos é que, em cada uma das regiões do mundo, os bancos de desenvolvimento concretizem alianças estratégicas, somando forças, mas também poder de financiamento e talentos, colocando-os ao serviço das necessidades mais importantes na sua área de influência.

Foi assim que, há algumas semanas, nasceu a Aliança de Bancos Subnacionais de Desenvolvimento na América Latina, como resultado da colaboração da como resultado da colaboração da Agência Francesa de Desenvolvimento, do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, do Fundo Mundial para o Desenvolvimento das Cidades (FMDV, na sigla em francês) e do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais (IDDRI, na sigla em francês).

O termo subnacional refere-se a entidades que operam no âmbito de estados, departamentos ou províncias. Os bancos subnacionais de desenvolvimento estão, portanto, mais próximos das necessidades específicas das pessoas de cada região; por isso, conhecem em primeira mão seus problemas e as melhores formas de resolvê-los.

Essa soma de recursos de todo tipo consolida os bancos subnacionais e destaca seu perfil no panorama financeiro regional diante de instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o CAF – Banco de Desenvolvimento e o FONPLATA – Banco de Desenvolvimento, dentre outros.

A aliança é uma boa notícia, bem como o compromisso de mais de 450 bancos de desenvolvimento de enfrentar juntos nossos problemas comuns.  Especialmente, quando o foco é colocado na mitigação dos efeitos da mudança do clima.

O acordo dos bancos subnacionais tem esta mesma motivação. Tenho certeza de que muitos dos recursos e das boas ideias de que precisamos para construir um mundo melhor surgirão de tais esforços.

Texto publicado originalmente na coluna mensal de Juan E. Notaro no Huffington Post.

17/05/2021