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PIB: um relato parcial do sucesso ou do fracasso econômico de um país

FONPLATA

- Novo índice de crescimento inclusivo do FEM, um passo à frente 

Por Juan Notaro

Diante do crescimento do PIB de um país, tradicionalmente ouvimos declarações públicas sobre o progresso econômico que isso implica para o país e seus habitantes. 

Esta afirmação, que é basicamente certa em termos macroeconômicos, normalmente não é percebida desta forma por seus cidadãos quando relacionam este índice à própria renda, progresso econômico ou melhoria de sua qualidade de vida.

Parece haver um consenso cada vez mais amplo de que o Produto Interno Bruto (PIB) é uma indispensável referência do estado econômico de um país, mas que não deveria ser o único. Por exemplo, o Banco Mundial incluiu variáveis sobre sustentabilidades e meio-ambientais em seu inovador Índice da Riqueza das Nações, publicado recentemente. 

Agora é o Fórum Econômico Mundial (WEF, nas siglas em inglês) que nos surpreendeu satisfatoriamente com a publicação do Índice de Desenvolvimento Inclusivo. O novo parâmetro utiliza além do crescimento, outros onze fatores para medir o desenvolvimento econômico.

Estas outras dimensões que levadas em conta têm a ver com a estabilidade e o progresso dos países a longo prazo, considerando fatores como a inclusão, a igualdade intergeracional e a administração sustentável dos recursos naturais, entre outros. 

Esta forma de avaliação da riqueza é particularmente significativa nestes tempos, sobretudo por causa da bonança das matérias-primas da década passada.

Vários países mostraram altos crescimentos de suas economias, com uma significativa redução da pobreza que não têm sido possível sustentar ao mesmo nível ao longo do tempo. 

Nós que trabalhamos em instituições de desenvolvimento sabemos que uma das coisas mais difíceis de conseguir é, exatamente, que o impacto de nossa ação contribua para a viabilidade a longo prazo dos países nos quais trabalhamos e não somente superar as difíceis conjunturas. 

No entanto não surpreende que a Noruega apareça como o Número 1 no Índice, chama a atenção a desconexão entre o crescimento do PIB e a inclusão socioeconômica de seus habitantes nas 30 economias emergentes, com o PIB per capita mais alto.

Desse grupo, apenas seis chegaram a um patamar de inclusão similar ao crescimento do PIB enquanto os demais, ou ficaram estancados em seu índice de inclusão ou abaixo dele.

Por este motivo me alentou o fato de que Uruguai, Paraguai e Argentina, três países da Bacia do Prata e membros da instituição que presido, apareçam entre as 10 economias mais inclusivas na América Latina. 

O Uruguai também aparece na lista que considera os índices de inclusão entre todas as economias emergentes do mundo. Entre os dez primeiros lugares dessa lista, consta apenas outro latino-americano: o Panamá. 

O fato de que muitos de nossos países tenham conseguido evitar com relativamente poucas dificuldades a crise financeira de 2008-2009 e que tenham aproveitado o boom das matérias-primas para avançar em grandes conquistas sociais, indica que estão trabalhando com uma visão de longo prazo, além das condições políticas ou econômicas. 

No caso dos membros do FONPLATA (Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai), todos são considerados países de renda média. Apesar deste progresso, em todos eles continuam os enormes desafios para a redução da pobreza e a inclusão, especialmente em áreas periurbanas e rurais. 

Nosso dever é, especificamente, ajudar estes países para que as regiões distantes, de fronteiras ou do interior - que é onde na maioria dos casos estão os núcleos rígidos de pobreza -  também possam aproveitar os benefícios do desenvolvimento que já são vistos, por exemplo, nas capitais e em outras grandes cidades.

São necessários grandes projetos para isso? Não especificamente. Pequenos e médios projetos, em áreas isoladas, focalizados em suas restrições e carências específicas conseguem ter um enorme impacto no desenvolvimento. 

Nós temos presença na região e nos especializamos em projetos de pequenas e médias dimensões, com custos transacionais bastante inferiores aos que enfrentam outros organismos de desenvolvimento de maiores proporções que o FONPLATA. 

Isso nos permite participar muito ativamente neste segmento das agendas de inclusão de nossos países-membros e desta forma levar o desenvolvimento mais perto das pessoas que precisam. 

Nossa meta é que com um financiamento eficiente e com as adequadas políticas por parte dos países-membros, em um prazo não muito distante todos os países da Bacia do Prata possam chegar a também estar no “Top 10” do Índice do Fórum Econômico Mundial. 

* Texto publicado originalmente na coluna mensal de Juan Notaro em  Huffington Post.

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