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Somente juntos podemos parar a pandemia e reativar a economia

HIROSHI WATANABE
VIA GETTY IMAGES

Juan E. Notaro

Presidente Executivo do FONPLATA

À medida que os governos da região começam a tomar medidas para retomar a atividade econômica, também vão-se revelando algumas indicações do tamanho dos desafios que devemos enfrentar nos próximos meses.

No caso da América Latina, estes desafios incluem a interrupção da atividade econômica devido à quarentena e ao confinamento, mudanças de médio e longo prazos em algumas atividades para dar continuidade às medidas de prevenção, e queda previsível da demanda de matérias-primas pelas economias mais desenvolvidas. 

Em vista disso, espera-se uma queda de crescimento entre -1,8% e -5,5%, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “Um choque de proporções históricas”, nas palavras de Eric Parrado, o recém-nomeado Economista Chefe do BID.

A dúvida lógica diante desse panorama é: estamos preparados para enfrentá-lo? A verdade é que, apesar da imprevisibilidade da pandemia e de suas consequências, poderíamos estar mais bem preparados. Acredito, no entanto, que existem razões para confiar em nossa capacidade de enfrentar o desafio.

A primeira, é que já fizemos isso antes. Isto é, a economia regional enfrentou períodos de crise ao longo da história por diferentes razões. E aprendemos muito com eles, ao ponto de vários países da América Latina e, principalmente, da América do Sul, terem se posicionado, nos últimos anos, entre as economias mais estáveis ou com maior crescimento do mundo. Além disso, para os países exportadores de alimentos da região, já começam a surgir ares de melhora, com sinais positivos de demanda e preços, principalmente com o retorno gradual da China ao mercado.

A segunda, é que estas circunstâncias devem levar a fortalecer o processo de integração entre as nações, a torná-lo ainda mais eficiente e a avançar em alianças estratégicas para promover o investimento, o desenvolvimento da cadeia de valor e o comércio intrarregional.

A terceira, é a consciência da necessidade de ação coordenada. A maioria dos países adotou medidas para atendimento imediato à saúde, visando mais investimentos em ciência e tecnologia, protegendo os desempregados e anunciando pacotes econômicos de médio prazo para recuperar as economias das consequências da pandemia.

Há também ações simultâneas de agências de crédito (FMI, Banco Mundial, BID, CAF, FONPLATA e outros) para ajudar a mitigar as consequências sociais e econômicas do coronavírus com instrumentos de crédito e outros mecanismos para que os países tenham os recursos de que precisam no menor tempo possível.

Temos que aprofundar esse processo. Apesar de cada país ter atingido a pandemia em uma situação econômica diferente, é hora de conversar e colaborar mais e, sobretudo, de aprofundar os mecanismos de integração e melhorar suas instituições, efetivamente na busca de resultados, mas, acima de tudo, com espírito de solidariedade.

No caso do FONPLATA, referia na minha coluna anterior que estamos em permanente contato com nossos países membros, apoiando-os em questões de saúde, garantias e crédito a micro e pequenas empresas, transporte e logística e infraestrutura social urbana, todos elementos essenciais para uma estratégia de médio prazo que permita recuperar o emprego, a demanda e o dinamismo dos negócios no pós-pandemia.

Nesse sentido, também não podemos esquecer o que, além da integração, tem sido o mandato do FONPLATA desde a sua fundação: as áreas mais carentes – urbanas e rurais – e fronteiriças. Este é o momento em que devemos prestar atenção especial às populações vulneráveis nesses locais.

Agora, trata-se de ver como cada organização internacional e cada governo pode contribuir, em sua área de atuação, para este esforço comum, com dois objetivos prioritários: parar a pandemia e reativar a economia.

É uma tarefa na qual nos empenharemos ao máximo, e estou confiante de que resultará em uma América Latina mais próspera e estável, mas também mais bem preparada para futuras crises, mais justa e solidária.

Texto publicado originalmente na coluna mensal de Juan E. Notaro no Huffington Post.

18/05/2020

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