O desafio de interconectar a América do Sul
Durante Seminário Internacional especialistas analisaram as principais dificuldades para a instalação do Corredor Bioceânico, o canal que vai aproximar oceanos.
“O desenvolvimento econômico e social anda junto com a interconexão das infraestruturas”, com base nessa afirmação de Juan Notaro, presidente do FONPLATA, foi realizado nesta terça-feira (24 de outubro), na capital Assunção, o “Seminário Internacional Hidrovias e Ferrovias”. Através de análises, autoridades regionais de alguns dos países que vão abrigar o Corredor Bioceânico e membros de organismos internacionais expuseram questões de logística e de mobilidade para alavancar o potencial econômico desta parte da América do Sul.
Aproveitar os rios e trilhos da parte austral sul-americana para estabelecer o Corredor Bioceânico, esta grande obra que vai interconectar os oceanos Atlântico e Pacífico através de ferrovias e hidrovias para fomentar o comércio e melhorar o posicionamento da região frente a outras economias mundiais.
Ao contrário do que acontece na Europa e na Ásia, a malha ferroviária na América do Sul precisa ser reativada por ser um meio de transporte que produz poucos poluentes e que pode transportar tanto pessoas como mercadorias. Este potencial requer ser desenvolvido para trazer à população sul-americana melhores oportunidades de integração e comércio. São centenas de quilômetros ainda não explorados e que podem aportar melhores condições de vida e de trabalho aos cidadãos dos países que participam do Corredor Bioceânico.
A América Latina tem avançado em termos de integração econômica e superado os riscos dos mercados globais. Por isso a integração física desses países é fundamental para melhorar a competitividade e também os índices econômicos dos países da região, sobretudo daqueles que não possuem saída ao mar, caso de Bolívia e Paraguai.
Para Andrés Pereyra da Luz, especialista em transporte do BID, a vocação econômica regional tem que ser levada em conta porque “os países têm um perfil claramente exportador, além do que a América Latina é um celeiro para o mundo”.
O Seminário serviu para avaliar os desafios da infraestrutura regional e analisar as oportunidades para investir em setores até então pouco aproveitados na região e que afetam profundamente o progresso.
“A hidrovia é um sistema complexo que não pode deixar de lado o desenvolvimento social”, destacou Fausto Arroyo, especialista em Logística e Transporte no Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).
A necessidade de integração do setor privado junto com o público é fundamental para o avançar destes setores, que representam um motor para promover novas possibilidades de desenvolvimento para a região sul.
Ignorar esses potenciais é compatível com deixar de buscar um tesouro que está pronto para ser descoberto, sem contar o progresso que seria levado ao setor privado e em maior abrangência às populações que receberiam os benefícios diretos pela facilidade de transporte e do estímulo ao comércio.
Para Ramón Jiménez, ministro de Obras Públicas do Paraguai, “as obras conjuntas nos leva acreditar que vamos mudar a vida de nossos povos. O tema da hidrovia é uma frustração porque somos conscientes do desenvolvimento que ela pode gerar para todos neste eixo”, em referência aos locais que receberiam benefícios diretos com a implementação deste canal.
O Corredor Bioceânico seria para a América Latina o que o Canal do Panamá representa em termos de desenvolvimento social e econômico para o país centro-americano.
No entanto, um dos desafios é ajustar leis e sistemas para dar continuidade a esta grande via que vai revigorar a região sul-americana posicionando-a competitivamente em relação a outros mercados mundiais igualmente competitivos.
Em recente comunicado, o Banco Mundial destacou que a América do Sul terá neste e no próximo ano um bom posicionamento em seus níveis econômicos. Por isso, investir nestas áreas representa o aumento a futuro dos negócios realizados com a Ásia e, como consequência, a redução do tempo de transporte das cargas e uma via direta para expandir os atuais níveis de produtividade e competitividade.
Os 3.500 quilômetros de extensão dos rios Paraguai, Paraná, Uruguai e Prata representam um potencial de negócios de milhões de dólares, e também uma movimentação econômica que beneficiaria cerca de 17 milhões de pessoas que vivem nos países banhados por estas artérias que se interconectam.
“A hidrovia é competitiva porque temos dois rios que a integram e que são totalmente navegáveis em toda sua extensão”, explicou Luis Pablo Niscovolos, secretário executivo do Comitê Intergovernamental da Hidrovia.
É preciso afinar detalhes quanto a legislações e participação, segundo o ministro Obras Públicas Paraguai, Ramón Jimenez:
“Um dos desafios é saber o que os países vizinhos estão fazendo quanto às obras de conexão. O acesso à informação vai nos ajudar no desenvolvimento”.
Consolidar um projeto arrojado como o Corredor Bioceânico significa esforços conjuntos de vários setores. Segundo Juan Notaro, presidente do FONPLATA, “os organismos internacionais estão trabalhando em conjunto para mais divulgação sobre os projetos e estão fazendo um grande esforço na América Latina”.
O Seminário Internacional Hidrovias e Ferrovias, organizado pelo FONPLATA (Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata), contou com autoridades de Bolívia, Brasil, Paraguai, Uruguai, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).